O sermão do monte

O
Sermão da Montanha é um discurso de Jesus Cristo que pode ser lido no Evangelho
de Mateus (Caps. 5-7) e no Evangelho de Lucas (Fragmentado ao longo do livro).
Nestes discursos, Jesus Cristo profere lições de conduta e moral, ditando os
princípios que normatizam e orientam a verdadeira vida cristã, uma vida que conduz
a humanidade ao Reino de Deus e que põe em prática a vontade de Deus, que leva
à verdadeira libertação do homem. Estes discursos podem ser considerados por
isso como um resumo dos ensinamentos de Jesus a respeito do Reino de Deus, do
acesso ao Reino e da transformação que esse Reino produz. John Stott, teólogo e
escritor, diz que a essência do Sermão da Montanha foi o apelo de Cristo aos
seus seguidores para serem diferentes de todos os demais. "Não sejam
iguais a eles", disse Jesus (Mt 6.8).
O reino que Cristo proclamou deve ser uma
contracultura, exibindo todo um conjunto de valores e padrões distintos. Desse
modo, ele fala de justiça, influência, piedade, confiança e ambição, e conclui
com um desafio radical para que se escolha o caminho dele.Além de importantes
princípios ético-morais, pode-se notar grandes revelações, pois aquilo que
muitas vezes é tido por ruim, por desagradável, diante de Deus é o que
realmente vai levar muitos à verdadeira felicidade. Esta passagem forma um
paradoxo, contrariando a ideia de muitos e mais uma vez mostrando que
"…'Deus não vê como o homem vê, o homem vê a aparência, mas Deus sonda o
coração" (I Samuel 16.7).
No Sermão da Montanha o evangelista Mateus
está a apresentar Jesus Cristo como o novo Moisés, daí o discurso ser proferido
numa montanha (talvez, apenas uma colina), pois Moisés tinha recebido os 10
Mandamentos no monte Sinai. Entretanto, Jesus afirmou que não veio para abolir
a Lei ou os Profetas,[3] mas sim cumprir na sua íntegra (Mt 5.17).O sermão do
monte apresenta princípios éticos e morais pertinentes ao reino vindouro do
Messias? Que relação há entre a degradação moral do gênero humano e os
princípios anunciados por Jesus? O sermão do monte é um conjunto de normas e
princípios de cunho ético e moral? É um estatuto do reino de Cristo? Basta
comportar-se segundo alguns princípios éticos e morais que o homem terá direito
ao reino dos céus?
O Sermão da Montanha - As Beatitudes "E
Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se
dele os seus discípulos; E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados; Bem-aventurados os
mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de
justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque
eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles
verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados
filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça,
porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos
injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha
causa" (Mateus 5: 1 - 11) O Sermão da Montanha e o espírito inatingível da
lei As bem-aventuranças e o ministério de Jesus Cristo Não matarás e o Sermão
da Montanha Há várias teorias que tentam explicar o sermão do monte. Para
alguns estudiosos o sermão do monte é um 'evangelho' exclusivo do reino de
Jesus. Outros compreendem que o sermão apresenta princípios éticos e morais
pertinentes ao reino do Messias. Geralmente fazem um comparativo entre a
degradação moral do gênero humano e os princípios anunciados no sermão. Diante
das análises e de algumas contradições, ficam as questões: O sermão do monte é
um conjunto de normas e princípios de cunho ético e moral? É um estatuto do
reino de Cristo?
Basta
praticar o que Jesus anunciou e o homem terá direito ao reino dos céus? Para
compreendermos a mensagem de Jesus, é necessário observarmos alguns versículos
do Antigo Testamento e a dinâmica do aprendizado da Escritura naquela época.
Dentre vários versículos destacamos: "Bem-aventurado tu, ó Israel! Quem é
como tu? Um povo salvo pelo SENHOR, o escudo do teu socorro, e a espada da tua
majestade; por isso os teus inimigos te serão sujeitos, e tu pisarás sobre as
suas alturas" ( Dt 33:29 ); "Provai, e vede que o SENHOR é bom;
bem-aventurado o homem que nele confia" ( Sl 65:4 ); "Bem-aventurado
aquele a quem tu escolhes, e fazes chegar a ti, para que habite em teus
átrios" ( Sl 34:8 ); "Bem-aventurado o homem cuja força está em ti,
em cujo coração estão os caminhos aplanados" ( Sl 84:5 ).
Sobre a dinâmica
do aprendizado do povo judeu, destacamos: Vários livros do Antigo Testamento
fazem referência à bem-aventurança. Dentre eles o livro de Provérbios e o livro
dos Salmos são os que mais fazem referências as bem-aventuranças. Estes livros
do Antigo Testamento eram lidos constantemente nas sinagogas, e mesmo aqueles
que não sabiam ler conheciam de cor algumas das citações, entre elas as que
envolviam a ideia da bem-aventurança. É importante lembrar que naquela época um
livro era caríssimo, e o povo não tinha acesso ou não sabiam ler, o que
fortalecia a necessidade de memorizar o que era lido. Eles dependiam da leitura
no templo para ouvirem trechos da lei, dos profetas e dos cânticos.
O
livro de Provérbios e os Cânticos dos Salmos auxiliavam em muito no processo de
memorização. Outra característica dos textos que fazem referência a
bem-aventurança é a conexão com o nome do Deus de Israel. No Antigo Testamento
a ideia da bem-aventurança decorre do favor de Deus para com os homens. Um
mestre sempre se assentava para ensinar e Jesus assentou sobre o monte cercado
pelos seus discípulos e pela multidão. A multidão ao ver que Jesus se assentou,
cercou-lhe ansiosa para ouvir o discurso. Jesus havia percorrido toda a
Galileia curando os enfermos, ensinando nas sinagogas e pregando o evangelho. A
notícia de suas ações percorria todas as cidades. Uma grande multidão vinda de
várias cidades o seguia ( Mt 4:25 ). Vendo Jesus a grande multidão subiu a um
monte e assentou-se ( Mt 5:1 ); os seus discípulos aproximaram-se e ele passou
a ensiná-los! Há muito tempo que o povo ouvia falar das bem-aventuranças
prometidas nas escrituras, mas a situação era de opressão e miséria. A fama de
Jesus havia criado uma expectativa na multidão, e quando Jesus falou sobre a
bem-aventurança, materializou-se a esperança dos ouvintes. Anos após anos os
pais anunciavam aos filhos uma época de alegria plena, mais ainda não tinham
experimentado da alegria prometida por Deus.
O sermão do monte iniciou-se com
uma mensagem de alegria a um povo oprimido e sem esperança. Jesus apresenta uma
esperança viva, porém, o discurso endurece logo em seguida. O povo esperava
refrigério e segurança nesta vida. Esperavam um Messias que os libertasse da
escravidão política. Qual a mensagem Jesus transmitiu ao povo no sermão do
monte? Sobre que alegria Jesus falou? Que esperança foi transmitida? A alegria
prometida dependia do cumprimento de mais normas e regras? Conheça um pouco
mais sobre este importante sermão! "Bem-aventurados os pobres de espírito,
porque deles é o reino dos céus" As pessoas ao ouvirem:
"Bem-aventurados...", logo fizeram conexão com algumas das citações
bíblicas. Será que Ele comentará um dos Provérbios? Será que ele citou Salmos?
Ou a abordagem dele será extraída da lei? A bem-aventurança é um tema que prendeu
a atenção dos ouvintes de Jesus e em nossos dias ainda cria expectativa nos
leitores. Afinal, quem não quer ser bem-aventurado?
Quando
Jesus complementa: "Bem-aventurados OS POBRES..." a mensagem toca
ainda mais os ouvintes. Esta seria uma mensagem inesquecível, pois tocou a
emoção do povo: "Será uma revolução social? É agora que alcançaremos a
hegemonia política e a paz prometida?". A promessa de alegria aos pobres é
plenamente compreensível, mas o que entender do qualificativo adicionado ao
substantivo pobre? "Bem-aventurados os pobres de espírito...". Quem
são os pobres de espírito?
Jesus estava rodeado de pobres de várias cidades
circunvizinhas. Se a mensagem fosse somente: 'bem-aventurados os pobres', ela
seria aceita e ovacionada pela multidão! Jesus teria conquistado os seus
ouvintes e mais seguidores. Mas, como um povo que professava 'a melhor'
religião, com princípios éticos e morais intocáveis e que se consideravam
filhos de Abraão poderia aceitar ou reconhecer ser um 'pobre de espírito'? Como
alguém observador da lei reconheceria a condição de pobreza espiritual? No
Antigo Testamento não consta o conceito 'pobre de espírito'. Mas, Aquele que
representava uma esperança de mudança na condição do povo, apresenta um novo
conceito e uma necessidade de reconhecer uma condição que caracteriza os
pecadores ou os incircuncisos. Como um filho de Abraão poderia reconhecer que
era pobre de espírito? Jesus completou a frase: "...porque deles é o reino
dos céus". Muitos se perguntaram: De quem é o reino dos céus?
Dos
pobres de espírito? Além do mais, o povo estava a procura de curas, de pães, de
peixes, de um reino terreno, mas Jesus estava falando de um outro reino: do
reino dos céus! Onde fica este reino? O que é o reino dos céus? Para responder
essas perguntas devemos observar a mensagem que foi anunciada desde o
nascimento de Cristo: "E, naqueles dias, apareceu João batista pregando no
deserto da Judeia, e dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos
céus" ( Mt 3:1 -2); "Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer:
arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus" Mt 4: 17. Verifica-se
que o reino dos céus diz da pessoa de Cristo, como profetizou Isaías e
reafirmou João Batista: "Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías,
que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor,
endireitai as suas veredas" ( Mt 3:3 ). Quando Jesus disse:
"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos
céus", Ele não estava denunciando a moral do povo.
Ele
não estava apregoando um reino humano ( Jo 18:36 ). Também não estava em busca
de uma melhoria na condição socioeconômica do povo ( Jo 12:8 ). Antes Jesus
estava se apresentando ao povo por parábolas. Com a sua mensagem, Jesus expôs
ao povo que Ele é o acesso ao reino dos céus, e que todos aqueles que
reconhecessem que eram pobres de espírito, estes seriam bem-aventurados.
Àqueles que reconhecessem a precária condição espiritual que se encontravam,
pertenciam o reino dos céus, que é Cristo. Eles precisavam reconhecer que eram
necessitados espiritualmente. Enquanto queriam pão, Jesus estava apresentado o
pão vivo que desceu dos céus. Enquanto buscavam um reino, Jesus estava lhes
abrindo a porta do reino dos céus. A relutância em aceitar a condição de
necessitados espiritualmente persistiu até mesmo entre os discípulos que criam
nele: "Responderam eles (os judeus que criam nele): somos descendentes de
Abraão, e jamais fomos escravos de ninguém" ( Jo 8:31 -33).
Eles
acreditavam estar abastados espiritualmente por serem descendentes de Abraão.
Ao se auto proclamarem como filhos de Abraão, os judeus estavam cônscios de que
eram filhos de Deus ( Jo 8:41 ).
Ser
filho de Abraão para eles era o mesmo que ter a filiação divina. Por isso João
Batista disse que das pedras Deus poderia fazer filhos para si. Em razão desta
crença os judeus não admitiam que eram escravos de ninguém, uma vez que se
admitissem ser escravos, era o mesmo que admitir que alguém havia conquistado o
próprio Deus ( Jo 8:33 ).
"Bem-aventurados os que choram, porque eles
serão consolados" O sermão prossegue: "Bem-aventurados OS QUE
CHORAM...". A bem-aventurança depende da emoção humana? O choro como
conseqüência direta de uma emoção humana concede o favor de ser consolado? Não!
A ideia apresentada neste versículo complementa a anterior. O choro denota a
condição de impotência frente a questões impossíveis. Após reconhecer a
condição de miserabilidade espiritual, a reação do homem é o choro.
A única
ação de um miserável é o choro, e serão consolados! Para que o abatido seja
consolado, é preciso que habite com alguém que lhe arranque da miséria:
"Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo
nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e
abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o
coração dos contritos" ( Is 57:15 ; Sl 51:17 ). Compare:
"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos
céus" ( Mt 5:3 ). "...como também com o contrito e abatido de
espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração
dos contritos" ( Is 57:15 ). O salmista quando pedia perdão ao Senhor
disse: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito
reto" ( Sl 51:10 ).
Quem haveria de consolar os que choram? Os que
choram serão consolados por Aquele que tem o reino dos céus. É Ele que enxugará
todas as lágrimas! A resposta está em Isaias: "O espírito do Senhor DEUS
está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos;
enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos
cativos, e a abertura de prisão aos presos; A apregoar o ano aceitável do
SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes" (
Is 61:1 -2).
"Bem-aventurados os mansos, porque eles
herdarão a terra" A mensagem de Jesus possivelmente formou um impasse na
mente dos ouvintes: Moisés, o homem mais manso da terra não conseguiu herdar a
terra, como herdar a terra se os ouvintes não se consideravam maiores que
Moisés "E era o homem Moisés mui manso, mais do que todos os homens que
havia sobre a terra" ( Nm 12:3 ). Se Moisés, considerado um dos homens mais
manso da terra, não conseguiu herdar a terra, qual a intenção de Jesus ao
declarar que os mansos são felizes? Mas a pergunta persiste:
Quem são os
mansos? Qual é a terra a se herdar? "E os mansos terão gozo sobre gozo no
SENHOR; e os necessitados entre os homens se alegrarão no Santo de Israel"
( Is 29:19 ). "Os mansos comerão e se fartarão; louvarão ao SENHOR os que
o buscam; o vosso coração viverá eternamente" ( Sl 22:26 ). "Mas os
mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundancia de paz" ( Sl 37:11
). À exemplo do Antigo Testamento as bem-aventuranças decorre do Senhor de
Israel, mas, como alcançar tamanha alegria e ainda herdar a terra? E qual
terra? Jesus é a resposta: "Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim,
que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas
almas" ( Mt 11:29 ).
"Bem-aventurados os mansos, porque eles
herdarão a terra;" "....aprendei de mim, que sou manso e humilde de
coração; e encontrareis descanso para as vossas almas" Observe a relação
entre os dois versículos: aqueles que se deixarem instruir por Jesus, o Mestre
por excelência, estes serão felizes por alcançar o prometido, descanso para as
almas. Estes serão bem-aventurados por alcançar o prometido: a promessa de
herdar a terra equivale ao descanso para a alma para aqueles que se deixarem
instruir. Quando Jesus falou 'bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a
terra', não foi com o intuito de concitar os ouvintes a que tivessem uma
personalidade semelhante ou superior a de Moisés.
A mansidão que Jesus faz referência não é
comportamental, antes é a mansidão vinculada ao coração, ou a nova natureza do
homem. Após o homem aprender de Jesus haverá uma transformação na natureza do
homem, e estes receberão a plenitude de Cristo, e serão semelhantes a Ele:
mansos e humildes de coração ( Cl 2:10 ). Quando Jesus afirmou que os mansos
herdarão a terra, Ele não fez referência a elementos deste mundo, mas ao
descanso preparado por Deus. A 'terra' representa um lugar de descanso que Deus
preparou para os que aprenderem daquele que é por excelência manso de coração
"Ora, nós, os que temos crido, entramos no descanso..." ( Hb 4:3
-10). A terra prometida no Antigo Testamento estava atrelada a ideia de
descanso, e no Novo Testamento a referência a terra diz de coisas melhores: do
descanso de Deus.
Aqueles
que aprenderem com Cristo, estes terão descanso para as suas almas. Aquele que
encontra descanso para a sua alma em Cristo não receberá como herança um torrão
de terra, antes será herdeiro de novos céus e nova terra "Mas nós, segundo
a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a
justiça" ( 2Pe 3:13 ). O apóstolo Pedro ao referir-se aos mansos de
coração, não fala do homem natural, mas daquele homem que não conseguimos
visualizar, aquele 'encoberto no coração', do homem regenerado, que possui um
incorruptível traje de um espírito manso e quieto "Mas o homem encoberto
no coração; no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é
precioso diante de Deus" ( 1Pe 3:4 ). O que é precioso diante de Deus?
O
que possui valor para com Deus? Segundo o apóstolo Paulo o que tem valor, o que
tem virtude diante de Deus, é o ser uma nova Criatura: "Porque em Jesus
Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que
opera pelo amor" ( Gl 5:6 ); "Porque em Cristo Jesus nem a
circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova
criatura" ( Gl 6:15 ). Como a fé 'vem pelo ouvir', e o 'ouvir pela palavra
de Deus', quando Jesus diz que devemos aprender dele, é porque o seu ensino
produz fé que faz os seus ouvintes alcançar uma nova vida com direito a ser
herdeiro com Cristo. Como Cristo descansou de suas obras, como herdeiros de
Deus, os de novo gerado alcançam a bem-aventurança. Através da regeneração o homem
adquire a natureza de Cristo, ou seja, é gerado segundo Deus um novo homem em
verdadeira justiça e santidade, características pertinentes a pessoa de Cristo.
Somente através do novo nascimento o homem torna-se humilde e manso de coração.
"Bem-aventurados os que têm fome e sede
de justiça, porque eles serão fartos" Percebe-se que Jesus não estava se
referindo à justiça que é administrada nos tribunais dos homens! A abordagem de
Jesus em momento algum teve objetivos político. Jesus não estava preocupado com
os problemas atrelados as injustiças sociais. Jesus não estava promovendo mais
uma obra de caridade. Em momento algum Jesus expôs os princípios anunciados
pela teologia da libertação em que a prática de justiça esteja atrelada a
transformações de ordem econômicas, social e políticas.
Em momento algum Jesus
demonstra que a bem-aventurança dependa de transformações sociais ou que se
fundamenta nas relações sociais. Jesus não estava promovendo diretamente a
prática da fraternidade, o equilíbrio nas relações no exercício do poder ou
incentivando a partilha de bens no intuito de equilibrar a distribuição de
riquezas. Não!
O
sermão do monte trata de questões eminentemente espirituais. Se Jesus estivesse
promovendo a solidariedade humana como requisito para se alcançar a verdadeira
alegria, ele não teria protocolado um veemente protesto aos seus ouvintes:
"Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e
fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus" ( Mt 5:20 ). Você já
observou o conceito dos fariseus e dos escribas frente a multidão? Para o povo
os fariseus e os escribas eram o que a sociedade tinha de melhor. Porém, a
análise de Cristo é diferente: "Assim também vós exteriormente pareceis
justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de
iniqüidade" ( Mt 23:28 ).
Os religiosos pareciam justos, mas a natureza
deles era incompatível com a divina: estavam plenos de iniqüidade. Como seria
possível as obras dos ouvintes de Jesus alcançar uma posição maior em relação
aos fariseus e saduceus? Como entender o ter fome e sede de justiça? Onde os
ouvintes de Jesus encontrariam fartura de justiça? Se conseguirmos responder a
estas perguntas, estaremos bem próximo de entender todos os conceitos
apresentados por Jesus no sermão do monte. Jesus não se ocupou em estabelecer
um novo padrão de conduta para os seus ouvintes. Também não foi oferecido
felicidade e alegria com base nas emoções e motivações humanas. A felicidade do
homem neste mundo envolve outros aspectos e não está vinculado ao que Cristo
apregoou no sermão do monte "Porque quem quer amar a vida, e ver os dias
bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano. Aparte-se
do mal, e faça o bem; Busque a paz, e siga-a" ( 1Pd 3:10 -11). Se alguém procura
a felicidade deste mundo, basta seguir o que disse o apóstolo Pedro, ao citar o
( Sl 34:12 -14). Basta ter uma vida correta diante da sociedade que o homem
terá uma vida tranqüila e sossegada em muitos aspectos. O que Jesus oferece
através das bem-aventuranças vai além das perspectivas humanas e não se refere
a este mundo. A missão de Jesus é resgatar os pobres de espírito, sem qualquer
referência aos valores humanos, personalidade, caráter, moral, etc. Todos estes
elementos sofrem transformações ao longo do tempo, e difere de sociedade para
sociedade.
Os valores de hoje são totalmente diferentes
dos valores de cem anos atrás. O caráter e a moral sofreram transformações e se
adequou a sociedade moderna. Se a salvação estivesse apoiada nestas questões
circunstanciais, qual seria o padrão correto de conduta nestes séculos de
história da igreja? Jesus não apoiou a sua doutrina no homem ou em seus
méritos. A doutrina de Jesus não faz acepção de pessoas, de condição social, de
épocas ou de cultura. A mensagem de Jesus é a mesma para os pobres e para os
ricos. Ambos precisam reconhecer a miséria espiritual que se encontram.
Todos
os homens precisam arrependerem-se e o primeiro passo está em reconhecer a
condição de miséria espiritual e a necessidade de socorro divino. Todos os
homens estavam mortos em delitos e pecados, sem qualquer distinção entre eles.
A próxima bem-aventurança anunciada por Jesus encera um desejo de mudança.
Diante da condição de miséria espiritual, quando o homem reconhece a sua real condição,
resta somente o choro, e a obra a ser realizada para mudar este quadro fica na
dependência de Deus. Aqueles que se deixam instruir por Jesus, o manso e
humilde de coração, livram-se da condição de miséria espiritual conforme foi
apregoado tempos depois "Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele:
Se vós permanecerdes na minha palavra,
verdadeiramente sereis meus discípulos. E conhecereis a verdade, e a verdade
vos libertará" ( Jo 8:31 -32). "Bem-aventurados os que têm fome e
sede de justiça, porque eles serão fartos" Ainda persistem as perguntas:
Como ter fome e sede de justiça? Onde encontrar fartura de justiça? A resposta
para estas perguntas nos fará compreender melhor os conceitos apresentados por
Jesus no sermão do monte. "Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às
águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde,
comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro
naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?
Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a
gordura. Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma
viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as firmes
beneficências de Davi" ( Is 55:1 -3). O paradoxo perdura: Diante de uma
multidão faminta e sedenta Jesus declara que aqueles que têm fome e sede são
felizes. As necessidades básicas dos ouvintes de Jesus eram evidentes. Porém,
Jesus não se atem a problemática social. O fato de não ser tolerante às
injustiças sociais não aproxima o homem de Deus. Promover projetos de cunho
social não é o caminho que conduz aos céus. Em um mundo em crise social,
econômica, política, familiar, etc, as pessoas desejam mudanças urgentes e
clamam por justiça, mas esta 'fome' e 'sede' de justiça não é a que traz a
verdadeira felicidade. A mensagem do evangelho não coaduna com a teologia da
libertação. Somente os pobres de espírito têm sede e fome de justiça.
Os
'ricos' espirituais são aqueles que se consideram justos diante de Deus. São
aqueles que se justificam por meio de suas ações diante dos homens. Os pobres
nada têm neste mundo para sentirem-se seguros, mas eles terão o reino dos céus.
Somente os pobres de espírito sentem fome e sede de justiça, e em Deus serão
fartos. Aquele que concede o reino dos céus é justo e justificador, e somente
ele pode satisfazer o que é exigido pela sua justiça. O profeta Isaías há muito
tempo anunciou aos pobres que bastavam vir e comprar o melhor que se podia
oferecer: vinho e leite. Que convite! Que alegria! Os pobres foram convidados a
terem o que as suas posses não podiam arrematar. Porém, o profeta protesta:
"Porque gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o produto do vosso
trabalho naquilo que não pode satisfazer?" ( Is 55:2 ). A quem o profeta
se referia? Aqueles que consideravam não ter sede e fome! Aqueles que
consideravam ter trabalhado o bastante para satisfazer as suas necessidades.
Estes trabalharam em vão. Os pretensos ricos estavam gastando naquilo que não
podia satisfazer a necessidade essencial do homem. Mas, de que maneira os
pobres de espírito podem saciar a fome e a sede?
A
resposta é bem simples: "Ouvi-me atentamente... Inclinai os vossos
ouvidos...". Simples assim ser abastado de justiça? É isso que o profeta
Isaías disse: Todos que ouvirem atentamente a palavra de Deus, estes comerão o
que é bom, o melhor! O que pode fazer deleitar a alma. Qual é o deleite da
alma? O que a palavra de Deus pode suprir? "Ouvi, e a vossa alma
viver& aacute;". Se o homem tem sede e fome de justiça, ela será
saciada a partir do momento que se obter da vida que há em Deus. Só após tornar
participante da natureza divina o homem estará abastado de justiça. Não é o
trabalho do homem que satisfaz a necessidade da alma. Não é doações, não é
pratos de sopas, não é reconhecendo os erros do dia-a-dia, não é fazendo
sacrifícios que o homem irá satisfazer a necessidade primária da criatura de
Deus.
O que satisfaz a necessidade dos homens é o
fruto do trabalho de Deus: "Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e
ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a
muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre si" ( Is 51:11 ). O fruto
do trabalho do servo do Senhor se resume em conhecimento. Conhecimento é
transmitido através da palavra! O trabalho do Senhor é realizado por meio da
sua palavra, e todos que participarem do fruto oferecido terão nova vida. Após
aprender daquele que é humilde e manso de coração "Tomai sobre vós o meu
jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis
descanso para as vossas almas" ( Mt 11:29 ), o homem encontrará descanso e
o verdadeiro alimento para a alma.
Cristo não estava preocupado com a miséria
socioeconômica do povo. A falta de moradia não era a causa ou a bandeira do
evangelho. O evangelho social não estava em voga no discurso do Messias. Cristo
levou a iniqüidade de todos nós, mas é o conhecimento transmitido por Ele que
nos justifica. Ou seja, quando Paulo diz que a fé vem pelo ouvir e o ouvir pela
palavra de Deus, nada mais é do que aprendermos com Aquele que é manso e
humilde de coração. Através do conhecimento adquirido vem a fé, e por meio da
fé podemos agradar a Deus. Após adquirir vida através da palavra de Deus,
adquirimos um espírito manso, somos justificados, ou seja, declarados justos
diante de Deus. Não é o caráter do homem que é transformado. O homem não recebe
uma moral 'nova' ao adquirir o conhecimento do Santo. Antes, o homem tem o seu
ser criado novamente em verdadeira justiça e santidade ( Ef 4:24 ), e a sua
alma alcança descanso no Bom Pastor. Aqueles que entram por Cristo haverão de
entrar, sair e achar pastagem.
Estes
estão de posse do descanso prometido por Deus ( Jo 10:9 ; Sl 23). Através do
evangelho de Cristo o homem descobre a justiça de Deus ( Rm 1:17 ). Ao se
alimentar das promessas contidas no evangelho, o homem alcança maravilhosa fé que
provem de Deus e passa a ter vida dentre os mortos. O ladrão na cruz foi
justificado ao refugiar-se em Cristo após reconhecer a sua miséria. Ele não
tentou agarrar-se a vida aqui, mas implorou pela futura ( Mt 10:39 ). Talvez
aquele homem nunca desejasse a justiça dos homens. Talvez ele sempre fosse um
excluído da sociedade. Mas, um único encontro com a justiça de Deus revelada
aos homens foi o suficiente para que um pobre de espírito obtivesse a vida
eterna. Jesus continuou a falar da necessidade em se ter fome e sede de justiça
em contraste com a situação dos fariseus e saduceus "Porque vos digo que,
se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum
entrareis no reino dos céus" ( Mt 5:20 ). Somente aqueles que se alimentam
da palavra de Deus têm em si a justiça maior, que ultrapassa em muito a dos
fariseus. Basta o homem reconhecer a sua pobreza espiritual que Deus não negará
o alimento necessário que produz nova vida "Porque, assim como desce a
chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem
produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a
minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes
fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei" ( Is 55:10
-11). Para os homens, os fariseus e os escribas representavam o que a sociedade
tinha de melhor, mas a análise de Cristo é diferente: "Assim também vós
exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia
e de iniqüidade" ( Mt 23:28 ).
Só em Cristo é possível obter a justiça que
vem de Deus. Após ser justificado por meio de Cristo o homem obtém o direito de
entrar no reino dos céus. "Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles
alcançarão misericórdia" Por que os misericordiosos alcançarão
misericórdia? É uma das qualidades que devemos ter? Jesus estava incentivando o
perdão entre os seus ouvintes? Se não demonstramos misericórdia aos nossos
semelhantes não obteremos da misericórdia de Deus? A misericórdia aqui
prometida não refere-se a misericórdia que devemos oferecer aos nossos
semelhantes. Ser compassivo com o próximo não habilita ninguém a receber a
misericórdia divina. A experiência demonstra que ao sermos cordiais com os
nossos semelhantes teremos uma vida melhor nesta terra, mas isto não significa
que obteremos misericórdia de Deus porque exercermos misericórdia. Só é
bem-aventurado aquele que alcança a misericórdia divina, pois toda
bem-aventurança advém de Deus.
Porém, tal bem-aventurança não esta condicionada
ao comportamento humano. Daí surge à questão: Como ser misericordioso para
alcançar misericórdia? Se com Deus não barganha? O que Jesus ensinou não se
compara aos ensinamentos budistas, espiritualistas, etc. Jesus não falou na
reciprocidade necessária ao tratamento humano. Ele não se ocupa em tratar de
questões comportamentais como o fazem as várias religiões pelo mundo. Jesus
está tratando desde o início do sermão de questões exclusivamente espirituais e
este versículo não é exceção: Observe este salmo: "Bem-aventurado aquele
cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a
quem o SENHOR não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano" ( Sl
32:1 -2). Ser misericordioso é condição que decorre do novo nascimento, onde o
justificado passa a ser semelhante a Cristo.
Tal
semelhança não se manifesta na conduta, mas decorre da nova natureza. Todo
aquele que é instruído por Jesus passa a ser manso e humilde de coração; aquele
que se alimenta dos ensinos de Cristo passam a ser fartos de Justiça, pois são
criados em verdadeira justiça e santidade; aqueles que recebem de Deus
misericórdia, passam a condição de misericordiosos. A misericórdia de Deus é
demonstrada em perdão. Deus não imputa maldade àqueles que são alvos de sua
misericórdia. Como? O salmista responde: "Bem-aventurado aquele cuja
transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto" Quem é bem-aventurado? A
resposta é aquele! Aquele quem? O transgressor, o pecador! Se o transgressor, o
pecador, é quem recebe a dádiva de Deus, percebe-se que o salmista fala do
velho homem. O homem precisa de perdão, mas para isso a velha natureza precisa
ser coberta na morte com Cristo. O transgressor é alvo do perdão divino desde
que seja satisfeita uma condição da retidão e da justiça divina: a alma que
pecar, esta morrerá! Ou seja, se você é pecador só cessará do pecado após
morrer com Cristo. Este é o novo e vivo caminho que nos foi aberto pelo corpo
de Cristo. O versículo citado acima aponta para o homem não regenerado. "Bem-aventurado
o homem a quem o SENHOR não imputa maldade, e em cujo espírito não há
engano" O homem cuja transgressão é perdoada, após receber o perdão,
estará na condição apresentada neste verso: O Senhor não lhe imputará maldade,
e em seu espírito não haverá engano, visto que foi de novo criado, segundo
Deus, em verdadeira justiça e santidade. Estes dois versículos apontam duas
situações distintas de um mesmo homem. Bem-aventurado é o homem: a) cujo pecado
é coberto, e; b) cujo espírito não há engano. Este é o novo homem e aquele o
velho homem. O novo homem gerado em Cristo não tem maldade a ser imputada. Se
tivesse, é certo que seria imputada, pois Deus não tem o culpado por inocente.
Só
o novo homem não possui engano ou falsidade em sua natureza. Quando o apóstolo
Paulo recomenda aos cristãos serem misericordiosos, ele está abordando questões
comportamentais pertinentes aos cristãos, mas o tema não é o mesmo apresentado
por Jesus "Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos,
perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo" ( Ef
4:32 ). Agora, quando Cristo diz: "Sede, pois, misericordiosos, como
também vosso Pai é misericordioso" ( Lc 6:36 ), ele está falando do mesmo
tema apresentado na bem-aventurança. O homem é bem-aventurado quando alcança a
filiação divina. As condições necessárias para que o homem seja verdadeiramente
misericordioso só é possível àquele que Deus recebe por filho. Observe o que
Jesus ensinou:
"E,
levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os
pobres, porque vosso é o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes
fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque
haveis de rir. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos
separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do
Filho do homem. Folgai nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso
galardão no céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas"; Porém aos
abastados espiritualmente diz: "Mas ai de vós, ricos! porque já tendes a
vossa consolação. Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Ai de
vós, os que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis. Ai de vós quando
todos os homens de vós disserem bem, porque assim faziam seus pais aos falsos
profetas"; E Jesus passa a alertar os seus ouvintes: "Mas a vós, que
isto ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam;
Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam. Ao que te ferir numa
face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a
túnica recuses; E dá a qualquer que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não
lho tornes a pedir. E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma
maneira lhes fazei vós, também"; Observe que é impossível ao homem
alcançar o padrão de comportamento descrito acima, mas é plenamente possível a
qualquer homem o comportamento descrito abaixo? "E se amardes aos que vos
amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos que os amam.
E
se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também os
pecadores fazem o mesmo. E se emprestardes àqueles de quem esperais tornar a
receber, que recompensa tereis? Também os pecadores emprestam aos pecadores,
para tornarem a receber outro tanto"; Jesus recomenda um novo padrão de
comportamento aos seus ouvintes?: "Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei
bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis
filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus.
Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não
julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados;
soltai, e soltar-vos-ão. Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida
e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com
que medirdes também vos medirão de novo"; A nova forma de comportamento
demonstra que o homem está de posse da filiação divina. As questões
comportamentais não levam o homem a alcançar a filiação divina, mas quando se
alcança a filiação por meio de Cristo, o homem terá em si as condições
necessárias para ter um comportamento a altura de sua nova condição. Quando
Jesus disse: "Sede, pois, misericordiosos..." o que realmente ele
recomendou? A resposta encontra-se na parábola:
"E
dizia-lhes uma parábola: Pode porventura o cego guiar o cego? Não cairão ambos
na cova? O discípulo não é superior a seu mestre, mas todo o que for perfeito
será como o seu mestre. E por que atentas tu no argueiro que está no olho de
teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho? Ou como podes
dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, não
atentando tu mesmo na trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a
trave do teu olho, e então verás bem para tirar o argueiro que está no olho de
teu irmão"; Jesus recrimina os lideres religiosos judeus: eles eram cegos
guiando uma multidão de cegos. Qualquer um que aprendesse com um fariseu, o
máximo que alcançaria era ser um fariseu. A perfeição que alguém poderia
alcançar aprendendo de um fariseu seria: "... exteriormente pareceis
justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de
iniquidade" ( Mt 23:28 ). "Porque não há boa árvore que dê mau fruto,
nem má árvore que dê bom fruto. Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio
fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos
abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau,
do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração
fala a boca" Por meio de parábolas Jesus evidência um princípio pertinente
ao evangelho: só é possível um homem produzir o bem a partir do momento que ele
estiver ligado a oliveira, que é Cristo. Aquele que não está em Cristo obrará o
mal sempre, e aquele que em Cristo estiver produzirá segundo a espécie da sua
boa árvore, o bem.
A
transformação que se opera na natureza transbordará além do coração. O homem
poderá tirar o bem do bom depósito. "E por que me chamais, Senhor, Senhor,
e não fazeis o que eu digo? Qualquer que vem a mim e ouve as minhas palavras, e
as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante: É semelhante ao homem que
edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pós os alicerces sobre a rocha;
e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa, e não a pode
abalar, porque estava fundada sobre a rocha. Mas o que ouve e não pratica é
semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual
bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela
casa". Toda obra que o homem edifica se não estiver alicerçada em Cristo,
nada representa para Deus. O exemplo da árvore e da casa alicerçada versa sobre
os mesmos princípios. "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles
verão a Deus" Observe que após a segunda bem-aventurança ocorreu uma
mudança sutil na composição do texto. No início do sermão Jesus destaca a
necessidade daqueles que são bem-aventurados: pobres e que choram. Ele destacou
a necessidade e o que alcançaram: o reino dos céus e o serem conciliados. Deste
ponto em diante Jesus passou a destacar a nova condição daqueles que já haviam
alcançado o reino dos céus e estavam consolados. Jesus passa a descrever os
bem-aventurados como mansos, misericordiosos, puros de coração, pacificadores,
etc. Só é possível ver a Deus quando se está limpo de coração, e a palavra de
Deus tem esta função, remover todas as impurezas.
Por
meio da palavra do evangelho os discípulos estavam limpos. De igual forma, todos
quantos ouvirem do evangelho e crerem em Cristo também estão limpos: "Vós
já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado" ( Jo 15:3 ). Quem são
os limpos de coração? Como alcançar esta condição? Os limpos de coração são
aqueles que ouviram e aprenderam de Cristo, que é manso e humilde de coração.
Os limpos de coração são aqueles que alcançaram a condição de filhos de Deus,
uma vez que morreram com Cristo e ressuscitaram com Ele uma nova criatura. O
novo homem é criado através do poder de Deus que o evangelho contém, e por meio
desta nova criação o homem passa a ter um novo espírito e um novo coração,
limpo de impurezas ( Rm 1:16 ; Jo 1:12 -13).
Estes
são os Regenerados. Alguém pode questionar: Como é possível ver a Deus? João
responde: "Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no
seio do Pai, esse o revelou" ( Jo 1:18 ). Aqueles que são instruídos por
Cristo verão a Deus, pois estão completamente lavados peal palavra do
evangelho. "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados
filhos de Deus" Jesus dá outro título aos bem-aventurados: pacificadores!
Quem são, e o que é ser um pacificador? Seriam aqueles que repudiam a guerra?
Não! Os pacificadores são aqueles que levam as boas novas de paz. Àqueles que
anunciam que Deus está em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo! Estes são
os pacificadores "Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o
mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pós em nós a palavra da
reconciliação" ( 2Co 5:19 ). Aqueles que cumprem o ide de Jesus, estes são
os pacificadores. Jesus, o Filho de Deus foi enviado ao mundo para proclamar a
palavra da verdade:
"O
Espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar
boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a
proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos" ( Is
61:1 ). Todos quantos recebem a mensagem do evangelho também são comissionados
a levar as boas novas de salvação. Além da incumbência maravilhosa de anunciar
o evangelho o Cristão é agraciado com a filiação divina. Somente os filhos de
Deus, os de novo nascido, podem levar a semente da palavra da verdade.
Isto
porque eles são nascidos da semente incorruptível, e o que anunciam, o fruto
dos lábios, contém a semente incorruptível. "Bem-aventurados os que sofrem
perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus" A
missão dos pacificadores não é fácil. Eles sofrerão perseguições, mas o reino
dos céus pertence a eles. A perseguição é por causa da justiça de Deus expressa
no evangelho. Os bem-aventurados não serão perseguidos por questões humanas,
mas por causa da mensagem de Cristo, que é a justiça de Deus aos homens
"Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho
da lei e dos profetas; Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para
todos e sobre todos os que creem; porque não há diferença" ( Rm 3:21 ). O
motivo da perseguição dos pacificadores é por causa de Cristo, a justiça de
Deus aos homens. "Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e
perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa"
Jesus para de falar das bem-aventuranças ao apontar para os seus discípulos. Os
discípulos deveriam entender que eram bem-aventurados quando sofressem injurias
e perseguições. É uma alegria ser participante das aflições de Cristo. Através
das bem-aventuranças Jesus estava se apresentando ao povo, visto que todas elas
fluem de Cristo. Em Cristo está estabelecida a alegria dos povos e das nações.
Mesmo quando perseguido e injuriado o bem-aventurado é bem-aventurado: a
felicidade transcende desta vida para a eterna. Estevão se alegrou ao ver a
face do Senhor! Não são as perseguições ou as agruras desta vida que tornam um
homem bem-aventurado. Problemas fazem parte do cotidiano. A bem-aventurança
decorre do evangelho de Cristo, pois Cristo é que concede aos homens a condição
de alegria em Deus. Após anunciar as beatitudes, Jesus demonstrou que somente
os seus seguidores alcançam a verdadeira felicidade "Bem-aventurado sois
vós..." ( Mt 5:11 ).
A verdadeira alegria pertence aqueles que, por
causa de Cristo, haveriam de ser perseguidos e injuriados "Ora, todos
quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos" ( 1Tm
3:12 ). Todos quantos estiverem em Cristo serão perseguidos, mas, além de
estarem de posse das bem-aventuranças, deveriam exultar por causa do galardão
guardado nos céus. Que privilegio e que alegria! Ser perseguido como foram
perseguidos os profetas do passado e ainda ter direito a um grande galardão
guardado nos céus (v. 12)! Cristo declara que os seus seguidores, além de serem
bem-aventurados e de possuírem galardões guardados nos céus, também são o sal
da terra. Em que aspecto os seguidores de Jesus são o sal da terra? Os
seguidores de Cristo conservam o padrão das sãs palavras do evangelho. Mediante
a ação do Espírito Santo os cristãos guardam-na em bom depósito ( 2Tm 1:13 ). A
palavra de Deus é alimento que dá vida aos homens, e os seguidores de Cristo
também desempenham a função do sal: torna agradável ao paladar (ouvidos) o
alimento (evangelho). O cristão quando anuncia o evangelho não está fazendo a
'obra' de Deus, como alguns pensam realizar. A obra de Deus é a de conceder
vida, e vida em abundância, e homem algum realizará está obra, que é exclusiva
de Deus "Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas
Deus, que dá o crescimento"
(
1Co 3:7 ). Não foi dado aos seguidores de Cristo fazer a obra que é realizável
somente por Deus "Que faremos para executarmos as obras de Deus?" (
Jo 6:28 ). Os seguidores de Cristo podem se oferecer como libação sobre o
sacrifício, mas nunca realizarão a obra de Deus "E, ainda que seja
oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me
regozijo com todos vós" ( Fl 2:17 ).
Os bem-aventurados são sal por ter a função de
dar sabor agradável, o que torna agradável aos homens a mensagem do evangelho.
O apóstolo Paulo preocupou-se muito com estes aspectos ao pedir que orassem por
ele "Orai também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da
palavra, a fim de falarmos do ministério de Cristo, pelo qual estou preso. Orai
para que o manifeste como devo fazer" ( Cl 4:3 -4). Os cristãos devem
andar em sabedoria para os que estão de fora, aproveitando bem cada
oportunidade para proclamar o evangelho. Para isso a palavra do Cristão deve
ser temperada com sal! Qual palavra deve ser temperada? A palavra (mensagem) do
evangelho. O andar do cristão, ou a resposta conveniente são elementos que
'temperam' a palavra do evangelho aos que são de fora.
O apóstolo Pedro faz
referência aos bem-aventurados e a perseguição em decorrência do evangelho:
"Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo,
para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo
nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa
o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas
quanto a vós, é glorificado. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão,
ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; Mas, se padece
como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte" (
1Pe 4:13 -16). Caso o cristão não desempenhe a função do sal, com que se há de
salgar? Todos quantos se dizem seguidores de Cristo devem estar cônscios de sua
condição. Se o cristão não desempenhar o papel para qual foi comissionado,
resta ser lançado fora e servirá de pasto aos homens.
O cristão deve ter muito cuidado para não
confundir: 'ser pisado pelos homens' e o 'ser bem-aventurado por sofrer
perseguições'. Quando os cristãos são perseguidos por causa do evangelho é
bem-aventurado, mas, haverá aqueles que padecem por se intrometer em negócios
alheios, etc. O Cristão é a luz do mundo, pois é filho da Luz "Enquanto
tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz. Estas coisas disse
Jesus e, retirando-se, escondeu-se deles" ( Jo 12:36 ). Os discípulos eram
luz no Senhor, visto que, creram em Cristo. Sendo luz no mundo, isto indica
que, tal qual Jesus é, os discípulos o eram neste mundo "... porque, qual
ele é, somos nós também neste mundo" ( 1Jo 4:17 ). A função dos seguidores
de Cristo é a de conceder luz ao mundo (casa) que está em trevas.
Os seguidores
de Jesus tornam-se luz, por serem nascidos da Luz (regeneração). Agora, na condição
de filhos da luz, os nascidos de novo devem comportar-se como filhos
"Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no SENHOR; andai
como filhos da luz" ( Ef 5:8 ). Quem é nascido de novo deve comportar-se
de modo digno da vocação para qual foi chamado, ou seja, não deve portar-se
como andam os outros gentios ( Ef 4:1 e 17).
Para
saber mais:
O
Sermão da Montanha e o espírito inatingível da lei As bem-aventuranças e o
ministério de Jesus Cristo Não matarás e o Sermão da Montanha
PUBLICADO
EM
:http://www.estudobiblico.org/pt/
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